O Saber Esperar

O Saber Esperar 

Certa vez, em antiga cidade da 
Arábia, havia um velho mercador que 
vivia pobremente em humilde casebre. 
Seu velho sonho era o de possuir um 
belo tapete com o qual pudesse adornar 
sua casa enquanto vivesse, e seu túmulo 
quando a morte o convocasse, 
inexorável. 
Entretanto, não desejava um tapete 
comum, mas um raro e custoso trabalho 
que encerrasse todas as qualidades e 
não tivesse nenhum defeito, por mais 
insignificante que fosse. Havia longo 
tempo trabalhava para o sustento e 
economizava dos seus parcos recursos 
a fim de amealhar o suficiente para a 
realização do seu velho sonho! 
Após a poupança de muitos anos 
calculou que já possuía quantia 
animadora, e resolveu procurar a peça 
para verificar se já estava em condições 
de adquiri-la. Começou então a busca. 
Por suas mãos experientes e por 
seus olhos inquiridores passaram 
dezenas de peças, em uma variedade 
verdadeiramente prodigiosa. Todavia, se 
algumas provocaram verdadeira 
explosão de entusiasmo, decepcionava-
se em seguida porque logo se atentava 
em algum defeito. 
Gastou assim longo tempo e chegou, 
por fim, à conclusão de que o tapete 
com o qual sonhava não existia. 
Ninguém ainda conseguira fabricá-lo. Os 
amigos aconselhavam-no a desistir da 
busca ou a contentar-se com os belos 
mas imperfeitos trabalhos que 
examinara, mas o velho mercador 
abanava a cabeça, resoluto, dizendo: 
- Se o tapete perfeito que eu desejo 
não existe, é preciso fazê-lo. E, se 
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ninguém consegue fazê-lo, eu farei! 
Alguns, observando sua idade um 
tanto avançada, riam-se dele, 
acreditando-o senil. Outros tentavam 
dissuadi-lo, mostrando-lhe sua 
ignorância na arte difícil do artesanato. 
Mas o mercador, obstinado, procurou 
por uma casa onde se fabricavam lindos 
e coloridos tapetes e humildemente 
começou a trabalhar como aprendiz, 
iniciando-se na tecelagem. 
Depois de algum tempo de esforço e 
força de vontade, julgou-se com 
conhecimentos suficientes, e 
despedindo-se dos companheiros que o 
tinham ensinado, preparou-se para 
iniciar seu trabalho. Adquiriu todo o 
material, tendo cuidadosa e 
pacientemente examinado sua 
qualidade, e finalmente iniciou corajosa 
mente o trabalho. 
Durante os anos que lhe restaram de 
vida trabalhou na confecção do seu 
tapete. Cada dia, ao encerrar a tarefa, 
admirava embevecido sua obra e não 
hesitava em desmanchar o ponto que lhe 
parecia imperfeito. Sentia-se feliz. E 
pensava: 
- Jamais alguém teceu um tapete tão 
belo e perfeito como este. 
Quando desencarnou não havia 
conseguido terminá-lo, mas seus 
amigos, conhecendo-lhe o velho desejo, 
adornaram seu túmulo com o tapete 
inacabado, procurando assim cumprir 
seu último desejo. 
Durante muito tempo o espírito do 
mercador desencarnado permaneceu 
jungido ao tapete, procurando terminá-
lo. Nada pôde afastá-lo dessa 
obstinação, até que foi novamente 
atraído à reencarnação na Terra. 
Viveu existência difícil e obscura, 
procurando por algo que não sabia 
definir. Quando o sofrimento o atingiu 
nas lutas de cada dia, objetivando 
reajuste inevitável com a Lei, encontrou 
nele reservas inusitadas de paciência e 
resignação, de esperança e confiança no 
porvir. E, assim, seu espírito foi 
atravessando algumas existências, 
enriquecendo-se cada vez mais de 
virtudes, até que, após uma proveitosa e 
vitoriosa encarnação, foi recebido 
festivamente pelos amigos e 
companheiros alegres no plano 
espiritual. 
Durante a recepção, emocionado 
diante de tantas atenções e 
demonstrações de carinho, num 
vislumbre retrospectivo, recordou-se de 
algumas encarnações anteriores, e, num 
átimo, lembrou-se, como a criança que 
se recorda de uma travessura, do seu 
antigo desejo de obter um tapete 
perfeito. 
Usando os arquivos da memória, 
desejou rever o tapete inacabado que 
durante tanto tempo o maravilhara. 
Todavia, o trabalho que se lhe 
apresentou à visão decepciou-o. Não 
possuía nada de maravilhoso, pelo 
contrário. Vendo-o como realmente era, 
notava-lhe uma porção de defeitos. Um 
tanto encabrunhado, verificou que seu 
sonho de tantos anos não passava de 
um trabalho de principiante, muito 
inferior aos que tantas vezes examinara 
e se recusara a comprar. 
Foi quando notou a presença de 
luminoso companheiro e amigo, que 
acompanhando-lhe o pensamento, 
disse-lhe: 
- Não te envergonhes da tua obra, por 
mais imperfeita que ela agora te pareça. 
Há muito mais valor na obra que sai das 
nossa mãos, do nosso esforço, da nossa 
vontade, por mais carentes que sejam, 
do que as que passam pelos nossos
olhos, por mais belas que se nos 
afigurem. O tapete inacabado é precioso 
para ti, porque ele deves o 
desenvolvimento da tua força de 
vontade, a conquista da humildade, por 
ter reiniciado, em idade avançada, um 
aprendizado difícil. Recorda-te que já 
tuas mãos não eram firmes, teus olhos 
não enxergavam claro e teu corpo doía 
no esforço da posição que o trabalho 
exigia. A ele deves a conquista da 
paciência ao construíres com tuas 
próprias mãos o trabalho desejado. Olha 
bem para ele e perceberás o quanto lhe 
deves! 
O ex-mercador, comovido, fitou 
novamente o velho tapete inacabado, e 
com espanto notou que ele se revestia 
de luz em diversos pontos, colorindo-se 
de maneira admirável. Em poucos 
instantes transformou-se no mais belo e 
maravilhoso tapete que jamais vira. 
Surpreso, voltou-se para o amigo, 
que explicou, sorrindo: 
- Enquanto, continuavas tuas lutas na 
Terra, teus amigos resolveram ajudar-te 
para que continuasses a confecção do 
teu tapete. Para isto, constituíram 
pontos de contato entre as virtudes que 
desenvolveste na confecção da peça, 
impregnando-a. Tu mesmo, à medida 
que as desenvolvias, colorias e 
melhoravas o tapete que ora, na 
festividade do teu regresso, te 
entregamos, como símbolo que é da 
conquista da tua perfeição espiritual, 
que, como sabes, era e é a única meta 
que inconscientemente te norteava os 
desejos. Leva-o agora para adornar o lar 
que te espera no aconchego deste 
regresso feliz e lembra-te sempre que na 
vida, para a conquista do que 
almejamos, é imprescindível saber 
esperar.


fonte : livro Zibia Gasparetto - Volta que a vida dá 

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